Texto
sobre a leitura de Macunaíma como “encarnação” deste canto novo de brasilidade.
O livro Macunaíma é a obra-prima do escritor
Mário de Andrade e um marco na literatura brasileira. Tendo como berço o
movimento modernista, esta obra de início causou estranhamento pelo seu efeito
impactante em se tratando do caráter simbólico no qual foi alicerçado, e cuja
criação se deu no espaço de seis dias, segundo o autor como o resultado de suas
leituras e pesquisas. Num estilo inovador, Mário de Andrade foi visionário ao
imprimir no seu escrito não somente recursos linguísticos variados e inovadores
como também quando optou pela subversão da noção de espaço e tempo, ao deslocar
à narrativa e consequentemente a personagem principal por diferentes lugares e
inusitadas situações. Assim nascia a figura do herói nacional como marca da
essência brasileira.
Concernente
à vida de todo herói é necessário que este passe por privações e maravilhamentos em sua odisseia para que suas ações possam
em seguida resultar em aventuras e aprendizados. Por se tratar de um herói mítico,
Macunaíma também é dotado de poderes mágicos,
já que pode transmutar-se em coisas e animais em diferentes ocasiões de acordo
com a sua vontade ou a sua necessidade.
A ambiguidade é uma de suas marcas
registradas, assim como a malícia e o seu jeito muitas vezes pérfido e, no
entanto desloca-se no tempo dialogando com o passado remoto e com o presente e
o por vir. Na figura deste herói
observamos contradições que por se só explicam a maneira de agir desta
personagem, pois ao mesmo tempo em que é inocente, ele age com astúcia e ainda
carrega um forte traço sexual, mas que nos é passado pelo autor de forma quase
lúdica, pois esta ação é nomeada de “ brincar”, já que para ele, se trata mesmo
de uma brincadeira, ou seja, de certa forma nos remete a própria linguagem infantil e que pode ser percebida ainda forma
como os animais agem em comunhão na natureza.
Em alguns momentos da narrativa, os cortes
são abruptos e nos tomam de assalto, as cenas ali descritas são ágeis e nos
colocam em movimento ao acompanhar as aventuras do herói e seus irmãos: Maanape
e Jiguê. Esta tríade é percebida em inúmeras narrativas de diversas culturas e
que representam as figuras: do esperto, ingênuo e preguiçoso, e neste que caso é
representado por Macunaíma; do feiticeiro que é representado por Maanape; do
bobo papel conferido a Jiguê. De acordo com a autora Eneida Maria de Souza,
estas figuras simbolizam de forma bastante burlesca, as três raças brasileiras
e por esta perspectiva temos encarnados nestes personagens a representação de
uma etnia una e ao mesmo tempo múltipla, porque ao homogeneizar as etnias
índia, branca e negra e suas diferentes culturas para o que seria por
excelência espelho do brasileiro, o autor também nos forneceu os traços que
nelas são emblemáticos, como por exemplo: a esperteza, a avidez, a preguiça, os
ritos, as superstições, entre outros. Assim desta fusão nasce ” No fundo do
mato virgem” este herói que herda estas características e por isso mesmo se
torna na visão do autor o nosso modelo de herói, o que melhor nos assemelha e
representa, “ herói sem nenhum caráter” que é também um anti-herói, um
desajustado e que vai de encontro a uma sociedade moderna movida pelo progresso
em contraponto a “preguiça” cuja inspiração é a própria Amazônia, a vida nas
tribos, nos vilarejos, nas cidades
simples e calmas .
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