26 de ago. de 2013

"Encarnação em Macunaíma"



Texto sobre a leitura de Macunaíma como “encarnação” deste canto novo de brasilidade.


    O livro Macunaíma é a obra-prima do escritor Mário de Andrade e um marco na literatura brasileira. Tendo como berço o movimento modernista, esta obra de início causou estranhamento pelo seu efeito impactante em se tratando do caráter simbólico no qual foi alicerçado, e cuja criação se deu no espaço de seis dias, segundo o autor como o resultado de suas leituras e pesquisas. Num estilo inovador, Mário de Andrade foi visionário ao imprimir no seu escrito não somente recursos linguísticos variados e inovadores como também quando optou pela subversão da noção de espaço e tempo, ao deslocar à narrativa e consequentemente a personagem principal por diferentes lugares e inusitadas situações. Assim nascia a figura do herói nacional como marca da essência brasileira.
   Concernente à vida de todo herói é necessário que este passe por privações e maravilhamentos em sua odisseia para que suas ações possam em seguida resultar em aventuras e aprendizados. Por se tratar de um herói mítico, Macunaíma também é dotado de poderes mágicos, já que pode transmutar-se em coisas e animais em diferentes ocasiões de acordo com a sua vontade ou a sua necessidade.
    A ambiguidade é uma de suas marcas registradas, assim como a malícia e o seu jeito muitas vezes pérfido e, no entanto desloca-se no tempo dialogando com o passado remoto e com o presente e o por vir.      Na figura deste herói observamos contradições que por se só explicam a maneira de agir desta personagem, pois ao mesmo tempo em que é inocente, ele age com astúcia e ainda carrega um forte traço sexual, mas que nos é passado pelo autor de forma quase lúdica, pois esta ação é nomeada de “ brincar”, já que para ele, se trata mesmo de uma brincadeira, ou seja, de certa forma nos remete a própria linguagem  infantil e que pode ser percebida ainda  forma  como os animais agem em comunhão na natureza. 
   Em alguns momentos da narrativa, os cortes são abruptos e nos tomam de assalto, as cenas ali descritas são ágeis e nos colocam em movimento ao acompanhar as aventuras do herói e seus irmãos: Maanape e Jiguê. Esta tríade é percebida em inúmeras narrativas de diversas culturas e que representam as figuras: do esperto, ingênuo e preguiçoso, e neste que caso é representado por Macunaíma; do feiticeiro que é representado por Maanape; do bobo papel conferido a Jiguê. De acordo com a autora Eneida Maria de Souza, estas figuras simbolizam de forma bastante burlesca, as três raças brasileiras e por esta perspectiva temos encarnados nestes personagens a representação de uma etnia una e ao mesmo tempo múltipla, porque ao homogeneizar as etnias índia, branca e negra e suas diferentes culturas para o que seria por excelência espelho do brasileiro, o autor também nos forneceu os traços que nelas são emblemáticos, como por exemplo: a esperteza, a avidez, a preguiça, os ritos, as superstições, entre outros. Assim desta fusão nasce ” No fundo do mato virgem” este herói que herda estas características e por isso mesmo se torna na visão do autor o nosso modelo de herói, o que melhor nos assemelha e representa, “ herói sem nenhum caráter” que é também um anti-herói, um desajustado e que vai de encontro a uma sociedade moderna movida pelo progresso em contraponto a “preguiça” cuja inspiração é a própria Amazônia, a vida nas tribos, nos vilarejos, nas cidades  simples e calmas .

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stado de Hansel!! Não existem palavras e nem coesas seriam se as houvesse. Bem .. é com total encantamento que me rendo.

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